Gestão Indígena do Fogo desperta interesse global na Conferência Internacional sobre Incêndios Florestais, Brasil
Conferência Internacional sobre Incêndios Florestais, Campo Grande, Brasil, 28 de outubro a 1 de novembro de 2019
Gestão Indígena do Fogo foi de grande interesse na Conferência Internacional de Incêndios Florestais realizada recentemente em Campo Grande, no sul do Brasil. O a Isfmi esteve fortemente representado na conferência, organizando uma das quatro Sessões Especiais, Savanna Burning Challenges and Opportunities, focada em questões de gestão de incêndios em savanas/cerrados no Brasil e na América do Sul em geral, bem como no programa global a Isfmi . A sessão foi muito concorrida, com cerca de 200 participantes. A sessão especial foi seguida por uma reunião técnica posterior com foco nos desafios e oportunidades para o estabelecimento de um projeto do tipo Queimada de Savana no Brasil e uma apresentação final a Isfmi para o plenário da conferência, abordando os tipos de condições biofísicas, comunitárias e institucionais que fariam um estudo piloto ou de demonstração de Queimada de Savana no Brasil. Alguns destaques do programa são detalhados abaixo.









Sessão especial
- Rodrigo Falleiro (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), e Diretor do programa de gestão de incêndios em terras indígenas, destacou o progresso e os sucessos substanciais que foram feitos nos últimos anos no envolvimento com as comunidades indígenas, especialmente no cerrado - e as oportunidades e desafios futuros para estender o programa.
- Katia Onu (Instituto Socioambiental (ISA), Brasil) apresentou o primeiro de dois estudos de caso indígenas, com foco no Xingu, que ocupa extensas terras de floresta e cerrado adjacentes à Bacia Amazónica. A apresentação principal foi feita por Tahugaki Kalapalo (Presidente da Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX), Brasil), que delineou as muitas maneiras pelas quais diferentes comunidades do Xingu usam e manejam o fogo, tanto em contextos tradicionais quanto contemporâneos.
- Livia Moura (Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Brasil) introduziu o segundo estudo de caso, focando nos povos Javaé que ocupam a Reserva Indígena do Araguaia, com 1,4 milhões de km2, compreendendo terras de transição da Amazônia, cerrado e pantanal no Brasil central. A apresentação principal foi feita por Vantuíres Javaé (Presidente do Conselho da Organização Indígena Javaé da Ilha do Bananal (CONJABA), Brasil), que se concentrou nos desafios contemporâneos da gestão do fogo, mas incluindo um forte reconhecimento do apoio comunitário dado pelo programa do governo brasileiro Gestão Indígena do Fogo .
- Adriana Millan (Universidade Simon Bolivar, Venezuela), em representação da Dra. Bibiana Bilbao, apresentou a filosofia participativa de base comunitária subjacente à rede de gestão de incêndios Parupa que está a ser desenvolvida na Venezuela e nos países vizinhos.
- Christian Berlinck (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Brasil) descreveu o progresso muito significativo que foi feito com a implementação do Manejo Integrado do Fogo nas áreas protegidas federais brasileiras nos últimos cinco anos
- Robin Beatty (321Fire Moçambique, e ISFM) apresentou uma introdução aos desenvolvimentos recentes e actuais que sustentam o programa a Isfmi
- Cameron Yates (Charles Darwin University, e a Isfmi) descreveu os fundamentos técnicos da(s) metodologia(s) Savanna Burning aplicada(s) no norte da Austrália
- Jeremy Russell-Smith (Charles Darwin University, e a Isfmi) apresentou uma breve visão geral das abordagens baseadas no mercado que sustentam o desenvolvimento de projectos de Savanna Burning na Austrália - e, por extensão, a sua potencial aplicação noutros contextos geográficos
Reunião técnica e apresentação plenária
A reunião técnica, organizada por Livia Moura (Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Brasil) e co-presidida por Anja Hoffmann (a Isfmi), foi originalmente concebida como uma reunião fechada apenas para participantes convidados, mas, devido ao interesse mais amplo da comunidade, foi organizada como um fórum aberto com a presença de mais de 80 participantes. Foram discutidos substancialmente os desafios enfrentados pelas comunidades indígenas na abordagem efectiva dos seus requisitos e aspirações específicos de gestão do fogo. Embora reconhecendo o forte apoio fornecido pelo programa de gestão de incêndios em terras indígenas do governo brasileiro, os participantes enfatizaram que mais atenção e tempo precisam ser dados aos processos de consulta e envolvimento da comunidade para garantir resultados mais eficazes e duradouros.
Com base nas discussões acima, Jeremy Russell-Smith e Warley Rodrigues (Diretor de Áreas Protegidas, Naturatins, Estado do Tocantins, Brasil) fizeram uma apresentação para o plenário delineando o uso da terra, comunidade, características institucionais e conceituais que sustentaram a aplicação bem sucedida de projetos de Savanna Burning na Austrália, observando as características equivalentes que poderiam sustentar o desenvolvimento de atividades-piloto no Brasil.
Sobre as Conferências Internacionais de Incêndios Florestais
As Conferências Internacionais sobre Incêndios Florestais foram lançadas em 1989. As conferências têm por objetivo facilitar a partilha de conhecimentos e de competências em matéria de políticas, investigação, gestão e reforço de capacidades no domínio dos incêndios florestais (paisagísticos) num fórum internacional que reforce as capacidades das nações individuais para reduzir os impactos negativos dos incêndios paisagísticos no ambiente e na humanidade; e para fazer progredir o conhecimento e a aplicação do papel ecológico e ambientalmente benigno do fogo natural em ecossistemas dependentes do fogo, e a aplicação sustentável do fogo em sistemas de utilização dos solos.